Crítica: “Sobre meninos e lobos” (2003)
- João Vitor Dantas
- 26 de fev. de 2016
- 3 min de leitura

Quase toda semana assisto a um ou dois filmes com meu avô. Depois de certo tempo, acabei me acostumado com o estilo de filme que ele gosta. Não é meu estilo favorito (tenho que admitir que grande maioria eu não suporto ver até o fim) mas, de vez em quando, ele me deixa escolher; vou até a minha coleção e procuro um que já tenha assistido e que eu tenha certeza que ele vai gostar. Quase sempre dá certo. Esse costume de reassistir aos filmes com ele é uma experiência muito interessante; eu acabo não gostando de alguns filmes que antes gostava e gostando de alguns que não gostava. Há também os que já gostava e passo a admirar muito mais. Esse é um deles.
“Mystic River” ou como foi traduzido no Brasil “Entre meninos e lobos”, é um filme do gênero drama dirigido pelo destacável Clint Eastwood, que fez outros belos filmes como “Menina de ouro”, “Grand Torino”, “Os Imperdoáveis” e “Sniper Americano”.
O filme conta a história de um grupo de amigos de infância, que se reencontra, após uma tragédia familiar que afeta a vida de todos e traz dramas do passado à tona.
Trazendo um roteiro bem trabalhado e envolvente, "Sobre meninos e lobos" introduz sua história ao espectador de maneira muito natural. Vemos, de maneira exemplar, o resultado de todas as ações provocadas no começo do filme em cada personagem. A análise que o roteiro faz sobre cada um é intensa e, à medida que o filme desenrola, nos sentimos diante de uma situação onde qualquer coisa pode acontecer. É imprevisível. O roteiro dita o filme, e a direção Clint Eastwood mostra muita segurança e controle sobre o longa. Clint mantém o ritmo do filme de maneira exemplar, ocultando o que deve ser ocultado e dando pistas sobre descobertas possivelmente importantes para a trama.

Apesar do ótimo trabalho de direção e de um excelente argumento, a força do filme reside nas atuações. Começando pela brilhante interpretação de Sean Penn, que lhe rendeu em um Oscar. Vemos em seus olhos a dor da perda de um filho, e sua interpretação é profundamente angustiante e tocante. Torcemos por ele quase instantaneamente, ainda que o mesmo demonstre grande descontrole nas suas ações, você entende suas motivações e seus sentimentos. Percebemos que ele está sempre tentando anestesiar seus sentimentos e seguir em frente, mas seus esforços são em vão, já que, sempre que escuta o nome de sua filha, ele demonstra muita raiva, em meio as lágrimas.

Mesmo com o ótimo desempenho de Sean Penn, Tim Robbins não é ofuscado. O ator, e também diretor, nos brinda com uma interpretação que, apesar de mais contida, é repleta de simbolismos. Devido ao horrível trauma que de infância, seu personagem apresenta uma enorme fragilidade mental. Está sempre com um olhar vazio, como se a alma dele houvesse sido roubada; é praticamente um morto-vivo, ou como seu próprio personagem diz “um vampiro”. O ator é bastante convincente, por isso, venceu com vigor o Oscar de melhor ator coadjuvante por seu papel.
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Fechando o trio de meninos: Kevin Bacon, interpretando o policial Sean Devine. O ator está muito bem no seu papel, fazendo seu personagem demonstrar muita autoconfiança, quando, na verdade, sabemos que carrega uma grande melancolia. Temos também Laurence Fishburne, interpretando o parceiro de Sean, que contribui com uma interpretação bem mais relaxada que seus colegas, mas ainda sim muito eficiente.
Após o estabelecimento dos personagens o diretor deixa o filme fluir, resultando em uma série de eventos e decisões erradas por parte dos personagens que desencadeiam mais eventos ruins para vida daquelas pessoas. Quando um segredo é revelado, mergulhamos em uma amargura crescente e sentimos até mesmo um certo arrependimento (vocês irão entender).
Assim que acontece a conclusão do filme, há uma cena em específico que poderia tê-lo encerrado com maestria. Entretanto, o filme continua adicionando mais alguns minutos dispensáveis a sua trama. Não chega a ser algo que tira o crédito do filme, mas que, honestamente, me incomodou bastante.
Finalizando: “Sobre meninos e lobos” é um filme sombrio, com um ótimo plot twist no final. Possui atuações magistrais e conduz o espectador a um desfecho inevitavelmente amargo, mas satisfatório.
Nota: 10
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