Crítica: “WARCRAFT” - Sem Spoilers
- João Vitor Dantas
- 8 de jun. de 2016
- 4 min de leitura

“Warcraft – O primeiro encontro de dois mundos” (ainda to tentando entender a necessidade dessa explicação no título) de cara já pode ser considerado o melhor filme, baseado em um game, já produzido. Tem um bom investimento, um diretor que respeita a história e que, mesmo mudando algumas situações que não pertencem ao material original, consegue manter a plausibilidade de seu rico universo. No entanto, se pararmos pensar que o sub-gênero “filmes de games” tem nos oferecido filmes como: “Super Mario Bros”, “Tomb Raider”, “Street Fighter” e “Resident Evil”, “Hitman”, “Doom”, percebemos que uma franquia tão rica e popular como Warcraft figurar entre os melhores é ,no mínimo, sua obrigação.
Baseado na franquia de jogos da Blizzard, o filme se passa em um universo no qual os Orcs estão prestes a invadir o mundo dos humanos, já que seu mundo está praticamente morto, e para isso atravessam um portal criado pelo maligno Gul’dan. Enquanto isso, do lado dos humanos, o Rei Llane solicita ajuda do guerreiro Lothar e de um jovem mago chamado Khadgar para acharem o Guardião do reino e assim conter a invasão.

Logo nos primeiro minutos, o filme já se mostra extremamente imersivo. O design de produção criado por Gavin Bocquet transporta o espectador para o mundo fantasioso e inventivo, e por meio de tomadas aéreas temos a sensação do qual grande é aquele universo e sua diversidade geográfica. O castelo em meio as pequenas casas, as barracas da vila dos Orcs, tudo é extremamente bem feito e convence facilmente.
No entanto, a melhor coisa do filme com certeza é o processo de motion capture que monta praticamente todo o visual dos Orcs sem afetar a interpretação do ator por trás dos personagens. Logo que o filme abre, conhecemos o Orc Durotan e é possível ver, somente pela sua feição, o quanto ele está preocupado, e quanto teme pelo seu povo; ao mesmo tempo que, de cara, tira a ideia dos Orcs cruéis e sem racionalidade – ideia já comum em filmes de fantasia e que foi consolidado com o sucesso exponencial de “O senhor dos Anéis” - e mostra que os Orcs desse universo possuem sentimentos quase tão humanos quanto os próprios humanos, e isso é extremamente interessante.
É possível também notar o cuidado dos designers em criar tom de peles variados para os Orcs indicando a enorme diversidade presente dentro de sua espécie e não algo uniforme como é de se esperar, além disso simples detalhes como dentes amarelados e suas presas já dizem muito sobre essas criaturas.

A trilha sonora é pontual e acerta em cheio nos momentos em que aparece e entende quando é necessário uma pegada mais dramática e quando é necessário algo um pouco mais grandioso ficando um pouco mais tribal e até mesmo violenta.
Infelizmente, quando o filme passa para o lado dos humanos, decai consideravelmente. Mesmo que o roteiro nunca deixe o desenvolvimento dos personagens de lado, é notável o quanto as sub-tramas dos personagens principais, apesar de interessantes, nunca são executadas de forma aceitável; já que, apesar do ritmo até um pouco mais lento do que esperava, o primeiro ato se desenvolve de maneira apressadíssima, não tendo tempo para adentrar em seus personagens, suas motivações, seus desejos, seus medos e então mais para frente, quando um acontecimento catastrófico acontece, nos limitamos a simplesmente pensar “ok, o que vai acontecer agora?”, não sentimos os acontecimentos porque não foram criados vínculos suficientes com o personagem.
Há muita pressa por parte do roteiro na construção de vínculos entre seus personagens, deixando-os, então, robóticos. Podemos observar isso na forçada tentativa de criar um longo laço de amizade entre Lothar e Medivh ou também no desenvolvimento amoroso entre dois personagens que até então não possuíam nenhum tipo de tensão sexual, ou amorosa. Simplesmente, faltou tempo ao filme. Com cerca de 20 minutos a mais poderia ter sido criado arcos melhores e personagens mais cativantes para sentirmos o peso das consequências de suas decisões. Por que Lothar é considerado tão bom como guerreiro? Aparece ele lutando, você vê que ele é bom, mas nunca é confirmado o porque ele é o melhor; em que o rei Llane acredita? Respostas importantes como essas simplesmente são deixadas de lado.
As performances são razoáveis por parte de Paula Patton (Garona), Ben Foster (Medivh) e Bem Schnetzer (Khadgar), e mesmo sem transmitir a liderança ou a imponência necessária para o papel, Dominic Cooper entrega um Rei Llane desinteressante e artificial, porém funcional. A atuação que mais se destaca com certeza é a de Travis Fimmel (Lothar), que está terrível. O ator, sem expressividade nenhuma, não consegue acrescentar absolutamente nada para seu personagem limitando-se a um sorriso cínico e uma tentativa de charme inexistente. Nem no momento crucial da sua história, onde seu personagem tinha tudo para ficar extremamente interessante, o ator consegue entregar uma atuação que seja condizente com o que seu personagem sente. Ele sente dor sorrindo, e ri sério. Fazer o que?

Executado de maneira competente por Ducan Jones, o filme consegue entreter, mas em poucos momentos realmente empolga. Mesmo assim, é grandioso o suficiente para merecer ser visto pelos fãs e pelo público em geral no cinema.
Apesar de seus problemas, Warcraft abre muito bem a franquia e traz gás as adaptações de games que estavam desacreditadas por um bom tempo. Torço pela bilheteria desse filme e por sequencias um pouco mais cuidadosas com o desenvolvimento de seus personagens.
NOTA: 6.5
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