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Crítica: "Invocação do Mal 2" - Sem Spoilers

  • João Vitor Dantas
  • 13 de jun. de 2016
  • 4 min de leitura

A proposta de “Invocação do Mal” nunca foi revolucionar um gênero que após anos sendo utilizado pelos americanos em massa, perdeu sua originalidade e é, até hoje, um dos gêneros mais subestimados do cinema por conta disso (junto, talvez, com as comédias românticas).


Terror tem, atualmente, sido feito com baixo orçamento, diretores incompetentes, atores desconhecidos e histórias completamente desinteressantes; os filmes costumam durar 1h30 e possui em seu esqueleto os mesmos clichês usados de maneira despretensiosa e amarrados com 6,7 tentativas de jumpscares (sustos geralmente ocasionados por movimentos bruscos de câmera acompanhados de ruídos fortes) que dependendo do espectador, podem, ou não, surtirem efeito.


Por tanto, quando digo que a proposta de “Invocação do Mal” nunca foi revolucionar o gênero, significa que os clichês estarão presentes lá. O demônio que fala com a voz alterada; os adolescentes problemáticos que chegam em uma casa nova; os pais que permanecem céticos até, mais ou menos, o fim do segundo ato; as crianças que possuem amigos imaginários inicialmente inofensivos mas que, posteriormente, as mandam fazer atrocidades; os personagens que mesmo quase morrendo diversas vezes continuam investigando as coisas sozinhos ou andando pela casa à noite; porém, a grande diferença dos filmes genéricos e da franquia criada por James Wan é que tudo que está acontecendo é executando de maneira extremamente competente.


“Invocação do Mal 2” se passa 7 anos após os eventos do filme original e segue o casal de demonologistas Lorraine (Vera Farmiga) e Ed Warren (Patrick Wilson) que, mesmo abalados cada vez mais com sua profissão, acabam aceitando um convite da igreja para investigar um caso em Enfield, uma pequena cidade na Inglaterra onde uma família supostamente está sendo aterrorizada por um espirito maligno.


James Wan, o cineasta por trás de filmes como “Jogos Mortais”; “Sobrenatural”; e o original “Invocação do Mal”, é uma das maiores revelações dos últimos 15 anos no gênero. Ele entende o público, sabe o que aterroriza e como aterroriza além de brincar com a imaginação das pessoas que assistem, e isso só possível graças ao vasto conhecimento cinematográfico que já provou ter antes, e agora retifica.


Aqui o cineasta imprime uma ótima atmosfera e acerta, quase sempre, no ritmo e nas decisões do que deve ou não ser mostrado ao público. instigando o medo aos poucos. Sua boa direção está explicita nas maneiras em que conduz os planos. Temos planos-sequência (planos feitos inteiramente sem corte) maravilhosos, como na cena inicial, em que introduz os personagens e a geografia da casa, entrando por uma janela e acompanhando cada personagem e assim estabelecendo o ambiente e a atmosfera do filme. Outro ótimo uso da técnica é na cena em que Lorraine Warren observa um espelho e, percebendo algo estranho, olha para trás; a câmera acompanha todo seu movimento sem corte e com uma calma irracional que cria uma ótima tensão. Além disso, há uma outra ótima cena que consiste em algo aterrorizante que está sendo mostrando ao fundo do plano, mas o cineasta insiste em deixar apenas o personagem mais próximo na câmera focalizado instigando a imaginação do público. Wan também usa planos-holandeses inclinando a câmera para sugerir a entrada no mundo espiritual e “travellings” que costumam atrair o espectador para dentro da história, nos tornando imersos aos acontecimentos da trama.

A trilha sonora contribui, e muito, para a tensão no filme além de ser extremamente pontual. A direção de arte e figurino são impecáveis, tanto na reconstrução de época, quanto na criação de um universo esquecido e claustrofóbico que juntos com a excelente fotografia, repleta de tons tristes e sombrios, criam excelentes composições que se encaixam perfeitamente ao tom do filme.


Em termos de atuações temos um elenco espetacular. O casal de protagonistas interpretados por Vera Farmiga e Patrick Wilson possuem uma química surreal e desta vez seu relacionamento é muito melhor explorado. Você entende o amor um pelo outro, suas motivações, seus medos e isso é com certeza umas das coisas mais interessantes durante todo o filme. Porém, quem rouba o filme é a atriz Madison Wolfe que se entrega uma personagem carregando por vezes pavor e sofrimento, e por vezes insanidade e maldade.

A grande decepção de “Invocação do Mal 2” é que o filme não consegue se igualar a sua obra original, graças a algo que afeta a maioria das continuações de filmes de terror: A ideia de “quanto mais, melhor”. E isso pode ser observado no excesso de jumpscares e na repetição de cenas que apesar de criar bastante tensão, em certas situações, acabam não contribuindo no filme e tornando-o cansativo. Ao ver os personagens andando só e tentando resolver a situação por conta própria você acaba lembrando “calma, é só um filme” e em um filme de terror isso NÃO pode acontecer já que a graça, no final das contas, é estar totalmente imerso na história.

Há muitos momentos onde é possível notar que certos elementos foram introduzidos por puro marketing e que poderiam ser facilmente cortados sem afetar em nada na trama, que a propósito, tem desnecessárias 2 horas e 14 minutos de duração; com 20, 30 minutos a menos daria para ser muito mais efetivo. É possível notar isso em todo arco que envolve o “Homem-Torto” e no CGI que, além de mal feito, é mais hilário do que tenebroso.


“Invocação do Mal 2” apesar de não trazer grandes novidades ao gênero e ser mais longo do que precisava, ganha muito com a sensibilidade de seu diretor em entender o “terror sobrenatural” como poucos e seu elenco comprometido e carismático que juntos apresenta uma experiência muito assustadora e que vale muito a pena ser vista.


NOTA: 7.8



 
 
 

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