Crítica: “Capitão América: Guerra Civil” (2016) – Sem Spoilers
- João Vitor Dantas
- 28 de abr. de 2016
- 4 min de leitura
Sem dúvidas, esse é mais um grande ano para os filmes de super-heróis. O calendário de produções não para. Abrimos o ano com o sucesso de bilheteria e crítica “Deadpool”, seguimos com o polêmico, mas também bem sucedido, “Batman v. Superman – A origem da Justiça” e agora temos o tão aguardado Guerra Civil. Inspirado em uma das maiores HQs de todos os tempos, a história mudou completamente a forma como vemos o universo Marvel.

O mundo está assustado após os danos e mortes ocorridos durante os eventos de “Vingadores”, “Capitão América 2: O Soldado Invernal” e “Vingadores: A era de Ultron”. O governo, então, cria um sistema de registro para responsabilizar os Vingadores de suas ações. De um lado, temos Steve Rogers, o Capitão América (Chris Evans), que é contra o registro, e do outro, temos Tony Stark, o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) que é a favor da responsabilização dos heróis. Alianças com outros Vingadores são formadas e tudo comina em um grande embate.
O grande desafio desse filme é ser uma boa continuação do excepcional “Soldado Invernal” e contribuir para o desenvolvimento do futuro do universo cinematográfico, além de estabelecer personagens e apresentar outros. Isso o filme faz muito bem.
Falando dos heróis já estabelecidos, a Feiticeira Escarlate ainda lida com a força catastrófica de seus poderes, mas desta vez ela tem um arco melhor desenvolvido sobre as consequências de seus dons. A Viúva Negra é, sem dúvidas, um dos elementos que mais gostei no filme. A personagem apresenta uma contraposição de ideais muito bem justificadas e as sequências de ação com sua participação são perfeitas. Acho, inclusive, que a Marvel está perdendo tempo em não desenvolver um filme solo da espiã. O Visão ainda tenta entender alguns elementos do comportamento humano, o que gera cenas bem engraçadas, mas o personagem está subutilizado demais, inclusive em cenas de ação. Teria sido bem interessante ver algo além do que foi apresentado. O Homem-Formiga não tem muito valor narrativo, mas compensa sua aparição com sequências hilárias e uma grande surpresa que vai agradar muito os fãs. O Falcão também me agradou bastante. Com um humor sempre pontual, ele se torna fundamental em algumas cenas de ação, além de ser o braço direito de Steve Rogers em grande parte do filme. Por último, e sim, bem menos importante, o Gavião Arqueiro, que só está lá para marcar presença. Ele não empurra a história, não é engraçado, não chama atenção e tem a sua contribuição mais apagada nos filmes que apareceu até então.

Agora sobre os novos, o Pantera Negra é muito bem apresentado e rouba a cena na maioria das sequências em que aparece, sempre imponente e objetivo. E o Homem-Aranha é, sem dúvida, o melhor já feito até então. Extremante fiel às HQs, é um Peter Parker bem jovial e nerd, e um Homem-Aranha bem brincalhão e habilidoso. Fiquei muito satisfeito com esses dois personagens e ansioso para seus filmes solo.
Os pilares principais da trama também estão muito bem desenvolvidos. Robert Downey Jr apresenta uma nova dimensão ao seu personagem, em vez do playboy sarcástico já característico, temos um Tony Stark muito mais consciente. Você sente todo o seu sofrimento e dos efeitos de seus atos como herói. Já Chris Evans traz, dessa vez, um carisma muito maior em seu personagem, algo que até então não foi muito explorado pelo ator, o que traz identificação e aproximação com o público, algo muito importante em um filme como esse.

A direção é de Anthony e Joe Russo, a mesma de “Capitão América 2: O Soldado Invernal”. Aqui eles fazem um bom trabalho em cenas de ação e estabelecem muito bem os lados de cada um dos heróis, suas motivações e o contraponto de suas ideias: Liberdade versus Responsabilidade, o que fica bastante orgânico, não parece simplesmente jogado na trama. Esse embate de ideologias é um dos melhores aspectos do filme.
O longa, que é aberto com uma excelente cena em que seu tom já é estabelecido de cara, tem sequências de ação bastante dinâmicas, que abusam de uma câmera tremida (que nesse filme funciona bastante) e que juntas a uma boa direção formam, sem dúvidas, uma das melhores experiências de ação em filmes de super-heróis que já vi. Os personagens estão muito bem distribuídos, você dificilmente se perde, mesmo as cenas sendo bastante picotadas, o que se deve a um excelente trabalho de mise-en-scene. Ver os heróis trabalhando em equipe, um contra o outro, é muito, mais muito emocionante, e os cineastas tem noção disso, dando espaço para cada personagem brilhar em seu tempo.

O grande problema do filme é o ritmo. O excesso de piadas, apesar de serem mais orgânicas que em outros filmes do estúdio, acabam minimizando demais o drama ou por vezes até quebrando-o por completo. Acabamos então, vendo várias sequencias com forte tensão ou apelo dramático sendo interrompidas por algumas piadas bem intrometidas e, de certa forma, desnecessárias.
O vilão do filme, interpretado por Daniel Brühl, é fraquíssimo. O ator se esforça e as justificativas do personagem são aceitáveis e compreensíveis, mas não tem presença nenhuma, o seu plano maligno é sem sentido e pobre em criatividade, além de que o filme teria funcionado muito melhor sem sua participação. A Marvel continua a investir em de vilões genéricos e entediantes.
O roteiro, após alguns minutos de projeção, se torna muito repetitivo e por vezes expositivo demais, e até mesmo excessivamente cansativo. Entretanto, ele sempre te prepara para mais um grande evento ou mais uma grande reviravolta que, dessa vez, ao contrário da maioria dos filmes da Marvel, chega. Após alguns acontecimentos, o embate ideológico é deixado de lado e a “Guerra Civil” transforma-se em apenas um mero “acerto de contas”. O embate final é emocionante, dramático, sombrio e tenso, mas o filme força demais a barra ao tentar encerrar alegre e esperançoso.
“Capitão América: Guerra Civil” é o filme mais maduro dos estúdios Marvel. Emocionante, possui ótimas interpretações, com as melhores cenas de ação que o gênero pode oferecer e acerta em quase tudo que se propõe a fazer. Por outro lado, não sabe a hora de parar, é cansativo e acaba caindo nos mesmos erros que a Marvel vem cometendo a anos.
NOTA: 7.8
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