Crítica: "X-Men: Apocalipse"
- João VItor Dantas
- 19 de mai. de 2016
- 4 min de leitura
Em 2011, foi anunciado uma história de origem do grupo “X-Men”, mostrando a infância de seus pilares principais: Magneto e Professor Xavier. O filme, que se passa nos anos 60 (em plena Guerra Fria), foi muito bem recebido e conseguiu arrecadar uma boa bilheteria. Mas, devido a problemas de continuidade com os filmes da trilogia anterior (2000 – 2006), a FOX decidiu tomar a decisão de fazer um reboot, lançando então, “Dias de um futuro esquecido”. O filme junta a franquia original e a nova e zera a linha do tempo, trabalhando com um sistema de universos paralelos (à la J.J. Abrams).

O próximo passo então, é começar tudo do zero. É essa a missão de “X-Men: Apocalipse”. Reapresentando personagens já conhecidos e encaixando-os muito bem, o filme é divertido e amplia o universo dos mutantes de maneira estratosférica.
Na década de 80, um poderoso e primitivo mutante, interpretado por Oscar Isaac, renasce com o desejo de dizimar a raça humana e governar uma possível terra que é habitada essencialmente por mutantes. Xavier, interpretado por James McAvoy, e seus alunos então tem o dever de detê-lo a fim de continuar a coexistência pacífica com os seres humanos comuns.
A direção é mais uma vez de Bryan Singer, que não tem o mesmo gás da primeira trilogia, porém insere muito bem os novos personagens e os já conhecidos no contexto do reboot.
Ao contrário dos primeiros filmes, os personagens são mais jovens, criando uma dinâmica muito interessante sobre seus medos e inseguranças com outros jovens, ao passo que sua falta de maturidade e desejos adolescentes aproximam um dos outros muito organicamente.

A parceria Ciclope, Jean Grey e Noturno movimenta muito bem a trama e é, sem dúvidas, o ponto mais interessante do filme. Você se importa com eles, se identifica com eles e torce por eles. Todos os três atores possuem uma ótima química e vestem o manto de seus personagens de forma respeitosa e esforçada.
Evan Peters também está muito bem, roubando a cena toda vez que se apresenta com seu excelente timing cômico e dando vida novamente a um dos personagens mais carismáticos da nova franquia, o Mercúrio.
James McAvoy entrega um Xavier um pouco menos tenso que no filme anterior e mais humorado, o que funciona muito bem com o carisma e presença do ator, que já provou desde “X-Men: Primeira classe” que veio para ficar. McvAvoy transmite todo o amor que sente pelos seres mutantes e sua dedicação na convivência pacifica com seres humanos comuns com maestria.
Já as cenas dramáticas estão a cargo Michael Fassbender, o Magneto, que se esforça de maneira impressionante e desenvolve o ódio e solidão sentidos por sua personagem perfeitamente, justificando então algumas de suas decisões ao longo do filme.
Entretanto, é notável que os focos narrativos estão mal distribuídos. Quando o filme está em foco de qualquer outro personagem além dos citados anteriormente, a qualidade cai drasticamente e a necessidade de mostrar cenas de destruição com CGI mal feito acaba prevalecendo em detrimento do desenvolvimento dos novos personagens.

Mística encara mais uma vez seu dilema de aceitar ou não aceitar sua mutação, que já foi muito bem trabalhado em “Primeira Classe” e é basicamente o que move grande parte de “Dias de um futuro esquecido”, ou seja, já deu. Enquanto Jean, Ciclope e Noturno trazem consigo potencial dramático muito maior e interessante, o filme decide, à força, focar na mutante metamorfa, que claramente só participa desses filmes pelo nome de sua interprete. Empurra-la como líder dos X-Men é até bem justificado com os filmes anteriores, mas esperar que sua personagem seja aceita e se mantenha relevante mais uma vez pelo público sem dar nenhum carisma e avanço para a mesma é pedir demais.
Os 4 cavaleiros do Apocalipse são, com certeza, a pior elemento do filme. Enquanto o roteiro insiste que são fortes e perigosos, no resultado final se limitam a meros capangas do vilão principal. Com motivações nulas, Psylocke, Tempestade e Anjo estão lá por puro marketing, enquanto Magneto, o único com motivações fortes, é colocado em segundo plano nas cenas finais. Não há nada que justifique as decisões tomadas pelo grupo e seus personagens são vazios e caricatos demais. Não foi dessa vez que tivemos nossa Tempestade com o arco que merece.
O vilão-título é em certos momentos ameaçador, mas nunca chega a ter a imponência que merecia, e isso não é um problema da interpretação de Oscar Isaac - que visivelmente se esforça em passar seus sentimentos pelo olhar e expressões faciais – e sim do roteiro, que, simplesmente, não prepara o público para o caos que vai ruir pelas mãos do personagem fazendo então com que as decisões megalomaníacas do vilão não tenham o mesmo impacto dramático que deveriam ter.
O roteiro não pode querer que os espectadores sintam a dor de cada destruição e morte humana se, em nenhum momento, trabalha a importância da batalha ou o perigo que representa para as pessoas comuns. E o fortíssimo sub-texto com as minorias e diferenças sociais, presente em quase todos filmes da franquia, aqui é superficial demais.
Apesar disso, a luta final é surpreendentemente empolgante e uma das mais divertidas de se assistir do gênero. Mesmo que não cheguem a emocionar, há vários momentos muito interessantes em que podemos ver uma verdadeira equipe dos X-Men lutando contra um vilão cujo poder é suficiente para dizimar o mundo. Detalhe para uma cena extremamente bem executada e diferente que se passa na mente de um dos personagens durante a luta final. Talvez essa seja a única com apelo dramático suficiente.

No final, o filme toma sábias decisões e acaba em um ponto positivo, fechando alguns arcos, apresentando novas situações e criando terreno para o próximo filme.
“X-Men: Apocalipse” diverte e empolga bastante, mesmo que não emocione. Tem um roteiro que não prepara bem o vilão, mas quando acerta no foco de seus personagens apresenta uma história consistente e mais do que adequada para dar seguimento a franquia.
NOTA: 7.0
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