Crítica: "Rua Cloverfield, 10" (2016) – Sem Spoilers
- João Vitor Dantas
- 17 de abr. de 2016
- 3 min de leitura
Primeiro, gostaria de salientar a coincidência de Rua Cloverfield DEZ ser a minha crítica número DEZ, eu juro que não foi proposital.

O longa conta a história de Michelle, interpretada por Mary Elizabeth Wisntead, uma mulher que após sofrer um acidente de carro, acorda em um abrigo onde um homem chamado Howard, interpretado por John Goodman, diz que o mundo lá fora se tornou inabitável por conta de um ataque químico ou nuclear.
A direção do filme é de Dan Trachtenberg, que apesar de estreante, mostra que possui muito talento atrás das câmeras. O diretor consegue construir uma trama bem amarrada, e cria muito bem a sensação de suspense sem apelar muito para o obvio. Outra coisa que o cineasta faz muito bem, é manipular o espectador a sempre estar pensando se a protagonista foi realmente resgatada ou sequestrada, e sempre mostrando que independentemente da resposta, a situação em que Michelle se encontra é horrível (boa parte da trama gira em torno disso então evite spoilers e se ainda não viu “Cloverfield” de 2008, não assista antes de ver esse filme).
O Design de som do filme é impecável, além de reforçar a urgência da trama, insinua algo que estar por vim amplificando o suspense com maestria e participando ativamente da trama. Merece ser lembrado pela Academia no final do ano.
A trilha sonora é muito boa, mas por vezes intrometida. Veja bem, o filme por si próprio já tem uma trama extremamente tensa para segurar a atenção do espectador em determinadas cenas, mas, a interferência da trilha em grande parte do filme, incomoda um pouco e demonstra bastante insegurança com o próprio roteiro.
Falando em roteiro, vamos lá. O roteiro é a um dos pontos mais fracos do filme, em certos diálogos, é notável conversas expositivas e artificiais demais, principalmente quando se tratam do personagem Emmett, vivido por John Gallagher Jr. Há também alguns furos e sequências convenientes até demais.

Já no quesito mise-em-scène, o filme dá uma aula. “Mise-em-scène” é um termo francês que significa “colocado em cena”. Ela fala a respeito de tudo que está posto em cena, desde os atores, até o figurino e o cenário.
Aí você pensa: “Qual a importância disso em um filme? ”, eu explico. Uma mise-em-scène condizente com a trama, organizada e bem definida, é um dos elementos primordiais para o desenvolvimento da história do filme; já que quando ela atende esses quesitos é mais fácil para o espectador situar onde tudo está em cada lugar. Geralmente filmes de ação costumam pecar em suas mise-em-scène, criando uma poluição visual onde nada faz sentido o que gera momentos de “Da onde isso surgiu? ” ou “Isso já estava ai antes?”.
Já nesse filme, podemos ver o bom uso da mise-em-scène, acrescentando aos momentos tensos do filme, e então, servindo como base para resolução do conflito. O diretor consegue esse resultado, utilizando alguns minutos da duração da película para mostrar alguns planos abertos do ambiente que servem para situar o espectador, dessa forma, na sequência final fica fácil criar o suspense sem se preocupar em parar a trama para acrescentar determinado elemento ou mostrar para onde tal personagem vai e o que tem lá.
As atuações estão ótimas. Destaque para John Goodman, que me lembrou muito a personagem de Kathy Bates em “Louca Obsessão”, mostrando a dualidade de sua personagem: por vezes um sujeito confortável e pacífico, mas, ao mesmo tempo, perigoso e imponente. Mary Elizabeth Winstead também se mostra uma ótima atriz, criando uma personagem impulsiva, mas muito inteligente e muito forte. John Gallagher é o alivio cômico, apesar de muito passivo o ator cria um personagem interessante e que contribui para dinâmica entre Howard e Michelle.

O grande divisor de opiniões, é com certeza o desfecho do longa. O final de um filme é primordial para a reação positiva do público; entretanto, esse filme erra completamente em últimos minutos. A mudança subida de tom é praticamente escancarada na cara do espectador, afetando então no mistério que quebra completamente o envolvimento do público, as últimas cenas simplesmente não se encaixam com o que o filme propôs durante toda sua duração.
Mas não se enganem pelo final, ainda sim, “Rua Cloverfield, 10” é um ótimo filme.
Finalizando: “Rua Cloverfield, 10” é um filme muito bem dirigido, com ótimas atuações, um trabalho de som impecável e em aspectos técnicos: quase perfeito. Porém, tem um roteiro um pouco afetado e um desfecho que destoa completamente do mistério que foi apresentado muito bem nos primeiros atos.
NOTA: 7.5
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